terça-feira, janeiro 31, 2006

La Pensée du Jour

Ilusões do tempo que não é

  • Há já uns bons anos que li, pela primeira vez, a “Era do Vazio”, de Gilles Lipovetsky, esse professor de filosofia que Adriano Moreira também quis ler, apresentado pela minha mão no final de uma das suas aulas de Ciência Política.
  • Era esta a nossa em que, com um novo individualismo, trata de instaurar uma ordem de indivíduos conformados a uma uniformidade de orientações redefinidas para as grandes massas anónimas. Colectivismo neo-liberal ou individualismo neo-colectivista, eis um paradoxo assente no dilema do indivíduo colectivamente conformado, ou da colectividade individualmente massificada.
  • Mas dificilmente será uma colectividade humanamente socializada, porquanto muitos dos objectivos e interesses institucionalizados têm origem em fontes que transcendem a consciência dos destinatários, quando não se apresentam como verdadeiras manifestações de uma clandestinidade não marginalizada e, por isso, ilegítima porque não participada. Assim sendo, antidemocrática.
  • ‘La pensée du jour’: Só se reclama o passado com um presente sem horizontes e um vazio como futuro!

sábado, janeiro 28, 2006

O Republicanário

Quando a "Cidade de Deus" não tem Igreja
Há já algum tempo que professo a ideia de que, também na vida política activa, não nos devemos orientar com as limitações de gaveta conceptual, com caixinhas de verdades ou ideologias impostas. E isso também se ajusta à vivência espiritual, esse lado da nossa existência frequentemente oculto ou, pelo menos em alguns casos, obscurecido por algumas daquelas limitações. E nada disto contribui para a satisfação dos povos, que é o mesmo que dizer que não traz felicidade para ninguém. Ou, numa linguagem mais positivista, não é por aí, certamente, que se constrói o progresso das civilizações. Mesmo que a base não material destas exija alguma conformidade dentro de imperativos categóricos, não há nada que o progresso social oponha à liberdade natural das pessoas. Mesmo em sociedade. Sobretudo na polis. Principalmente quando percebemos que também há religião sem Igreja, ou que esta começa por ser toda a comunidade, independentemente dos credos a que se devotam.
É assim que não compreendo em que sentido foi a 'orientação' do voto dos que ainda agora militam no Partido em que continuo filiado (a Nova Democreacia), se é que a houve, como é costume nas aproximações partidário-eleitoralistas. Sim, que isto de andar a "competir pelo acesso ao exercício do Poder" tanto exige. Mas como a graça do espírito já não parece pairar sobre tão ilustres cabeças pensantes e dirigentes, resta-nos a vã esperança de que a legítima espectativa deixada no Conselho Geral de Évora tenha ficado na maioria das cabeças cavaqueiras. E, em todo o caso, 'não devemos ter medo'. Devemos acreditar que ainda é possível. Ou não tivéssemos o altíssimo, o único, o mais que tudo, que olha por nós, para nós.Mas, ... talvez já não olhe connosco!

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Cogitando

Nunca digas desta derrota não beberei!
Já há quem se regozige e festeje Portugal, como se de benção se tratasse, pelo facto de termos Cavaco Silva como Presidente da República. Nem agora, que foi eleito, eu vou dizer que ele era o meu candidato (como muitos seguramente o estão já a fazer, mesmo não tendo votado nele).
O que destas eleições mais ressaltou à vista comum foi a demonstração de falta de substância política do actual perfil constitucional do cargo de presidente da República, e que se perfigurou nos candidatos agora apresentados. O que levou, certamente, ao esvaziamento das respectivas proposituras.
Mas isso ainda não é, afinal, justificação para a bicandidatura partidária do Partido Socialista. Uma oficial, outra oficiosamente contrária à vontade do Partido e, por isso, sem o apoio e a disponibilidade da respectiva máquina. Resultando internamente vencedora. Levantando, portanto, divisões, crispando anteriores simpatias, tornando-as potenciais futuras adversidades. Com bombásticos atropelos afirmados pelos aparentemente competidores internos.
Só que esta é uma aparente e simplesmente linear análise das estratégias presidenciabilizadas. O débil mas astuto estratagema para derrotar a forte candidatura apresentada pelos partidos de direita e centro direita (admitamos que são isso mesmo), elaborada a partir do momento em que Manuel Alegre decide reaparecer candidato depois de nos ter feito ver a todos que, afinal, não valeria a pena estragar o projecto da máquina a que pertence, não surtiu efeito. Porquê? Porque, afinal, já ninguém dá cavaco a Soares, o único que poderia ir buscar substancialmente votos a Aníbal, a partir de um centrão que o reelegeu uma vez, há mais de um "século", num tempo que agora já não é seu. Pena é que não tenha percebido isso a tempo, pois já não tinha esbanjado mais uma enormidade de dinheiro (em boa parte também de todos nós) numa campanha, toda ela, pensada em somar votos nas urnas a favor de uma das candidaturas do PS, numa eventual 2ª volta.
Já não há chefe de Estado do Partido Socialista. Oxalá o exercício deste eleito se paute pela postura super superpartidária.
PS: o Estado somos nós! (?)!

sábado, janeiro 14, 2006

Cogitando

Os nossos cantinhos do Céu 1. Há sempre lugar a um sentimento de pertença ou de identificação com uma sensação, uma imagem espácio-temporal, ou uma ideia de referência básica (um microcosmos), principalmente quando nos libertamos de todas as influências que nos toldam o espírito ao ponto de não podermos, frequentemente, reconhecer em nós aquilo que sentimos e pensamos que somos e gostamos. Algo que reconhecemos como profundamente agradável, no nosso íntimo. É como se tivéssemos, todos, ícones que amamos e mantemos como elementos constitutivos da nossa identidade.

Poderemos, então, exemplificar estes simples e pequenos paraísos individuais nos mais diversos momentos e/ ou lugares por que passamos nas nossas experiências vividas e conscientes: a recordação de um ente que nos é querido; um simples lugar que a nossa memória recorda para a eternidade; a luminosidade de um pequeno espaço doméstico ou de uma paisagem natural que nos é constantemente familiar; o sentimento de filiação numa ideia que evocamos como valor absoluto; a sensação de liberdade que experimentamos ao viver um momento que nunca foi tempo; etc.

2. Este sentimento interior também se pode reportar às nossas mais genuínas porque naturais referências de cidadania, porquanto apenas podemos ser cidadãos numa polis que é o nosso ‘lugar ideal’ ou a representação da nosso universo cívico. E, apesar de todas as 'pedradas' com que nos 'bombardeiam' diariamente, sobretudo nas urbes mais concorridas, restam-nos sempre algumas destas sensações.
Oxalá vivamos todas as nossas experiências que a polis nos exige a partir dos nossos cantinhos do céu!

"La Pensée du Jour"

Valha-nos StºAgostinho

'O Pensamento do dia', assim se traduz, literalmente, a expressão com que uma figura carismática se dirigia aos concorrentes finanalistas de um concurso francês que também passou nas televisões portuguesas, há já uns bons anos (passava-se num velho forte, ao largo da costa mediterrânica francesa). Tal figura, que pelo aspecto evocava a pureza e a austeridade dos velhos sábios, dirigia uma expécie de 'bons conselhos' proverbiais ao finalizar o concurso, proferindo o seu "la pensée du jour" com a autoridade que o saber dos anos impõe.
Inspirado nesta figura, proponho-me agora, também eu (sem me candidatar a sábio ou a asceta conselheiro), proferir os meus "pensées du jour", que mais não serão que as minhas tentativas diárias de expressar o que, a cada momento, mais atormenta as nossas já muito massacradas consciências cívicas, para dizer, civilisticamente, a nosa cidadania. Com o estado a que este Estado chegou, nunca será demais o que cada um de nós deve dizer para tentarmos purgar os males que certos poderes do submundo já há muito instalaram na nossa sociedade. Os vícios são já tão profundos que, como me é próprio, já deito as mãos ao Alto e espero o que talvez apenas a Providência possa resolver.
Pensamento do dia: Quem não semeia só tem o que lhe dão!

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Cogitando

Esta democracia de ricos que se dizem defensores dos pobres!

Longe de ser uma provocação, a constatação da veracidade da afirmação em epígrafe pode ser revista nas orçamentações de mais uma campanha eleitoral (presidencial) quase toda directamente paga por todos nós.
Em teoria ou na prática, algumas das candidaturas presidenciais a que agora estamos a assistir não se propõem a eleição, porque é dado como certo (para elas próprias também) não ser possível. No entanto, é líquido que os resultados destas campanhas visam, exclusivamente, uma difusão bem sucedida da mensagem política e, mesmo, ideológico-matricial das respectivas formações onde se inscrevem os intervenientes, justificando as assim desmesuradas despesas de uma campanha de ricos, feita num país onde os receptores são, em grande maioria, os pobres que a pagam.
Estamos todos a navegar numa dimensão espacial já conquistada por apenas aqueles que puderam financiar os meios para a alcançar, e que é controlada, apenas, por aqueles que a alcançaram, repartindo os evedntuais benefícios apenas por aqueles que os podem pagar!
Se a realidade democrática não é originalmente natural (é uma
característica do comportamento sócio-humano que tem de ser aprendida e aplicada), ainda menos o é quando se projecta no vácuo das proposituras declaradas por quem está representado, na mente colectiva, ao nível dos corpos celestes inacessíveis, incompreendidos ou tão somente endeusados. Estamos todos a embarcar na nova hierofania do tolerável infinito que é o universo desconhecido!

domingo, janeiro 08, 2006

Cogitando

O “ad aeternum” noticioso dos amanhãs adiados – ou as histórias que se vão repetindo sem horizonte de esperança.

Começo a ficar farto de ver como o presente está constantemente a buscar no passado aquilo que não consegue projectar para o futuro, ou seja, como é que quem (talvez todos nós) deve fazer algo pelo presente, de forma a tornar melhor o futuro (direito universal dos povos ao desenvolvimento), está sistematicamente a cometer as mesmas façanhas que outros, frequentemente criticados por aqueles, cometeram no passado. Exemplos desta constatação, que é genuinamente empírica e não puramente teórica, há-os incontavelmente, como que a servir de fundamentação objectivante da própria constatação.
Como já em 50 dizia o Prof. Luís Cabral de Moncada, na sua Filosofia do Direito e do Estado, quando um povo não tem instrução (entenda-se latu sensu) basta que veja satisfeitas as suas necessidades básicas (alimentação e habitação) para não mais se interessar pelos assuntos públicos, deixados a resolver por quem, sucessivamente, os vai gerindo de mote próprio. Por outras palavras, o aforismo anti-salazarista do “governar melhor mantendo ignorantes os governados” é, antes, uma realidade constante no portugalório privinciânico. É uma realidade supra-partidária, extra-partidária, anti-partidária, irrealisticamente democrática, realisticamente anti-democrática porque, pelos fins, é anti-popular.
Extra-partidariamente, supra-ideologicamente, mas democraticamente dizendo, as realidades pintadas pela revolução que nunca aconteceu (este presente nunca pode ser o futuro do ontem prometido) são, todavia, um grito do real com que o cenário social nos presenteia no dia-a-dia. Hoje, como ontem, pouco vemos que foi mudado, nada do que seria essencial se alcançou. Transformaram-se as fórmulas que visam angariar o consentimento popular, decretam-se medidas que visam alcançar os objectivos de quem governa, mesmo sem legitimidade, num quotidiano sem razão que os suporte, para bem do ‘stress’ social, ou da psique colectiva que molda os interesses dos que nela têm de abrigar-se.
Até o sol parece ficar envergonhado, tal é a nossa apatia perante os detritos de que nos queremos alhear! Nem a profilaxia do domínio público soubemos definir, tal o estado da nossa higiene social, gerida nos interesses subterrâneos das poderosas famílias privadas! Por isso, quem esperar por higiene, saúde, e outros bens ditos públicos, o melhor é contar, num futuro aparentemente muito próximo, com S. A.'s de capitais públicos, o mesmo será dizer, de entidades pseudo-públicas porque privadas , dado que se vestem e alimentam à custa do que o erário público nos absorve, oficial mas clandestinamente, com o aval das mais altas esferas de controlo constitucional.
A este nível, nem a já publicitada campanha presidencial para 2006 nos promete nada de novo, tal é o conformismo sistémico dos intervenientes! De todos eles! Sem excepção, aceitando-se que, para alguns quase nunca ouvidos porque "inconvenientes", isso não tenha que ser,. obrigatoriamente, assim. Mas se até Louçã, oriundo de formação partidária inscrita na LCI, não se apresenta, politicamente, nesse quadro (apesar das quotas de tempo de antena que lhe têm sido atribuídas serem muitíssimo mais que proporcionais às atribuídas ao nível da sua representatividade parlamentar), não admira que dificilmente alguém se possa apresentar a votos sem a conivência do situacionismo sistémico.
Para ver sempre as mesmas histórias, com outras roupagens de actores hereditários, mais vale a dignidade circense, onde as feras e outros ícones da natureza, genuinamente, merecem sempre o respeito devido a quem trabalha seriamente para a comunidade, mesmo quando o número mais esperado é o dos palhaços!
Sem cair na auto-flagelação, talvez já não nos reste, sequer, a vã esperança de encontrarmos uma caixa de Pandora, sem surpresas de mercearia, orelhadas de porco ou outras burlas de feira que já são tradição, sem academia que as institucionalize! Nesse aspecto, façamos figas para que não atinja o ceptro de escola, deixando então que ainda possamos esperar, da dita caixa de ilusórias surpresas, uma pequena "luz ao fundo do túnel". Será isto poesia? Mas "V" de quem?!