quarta-feira, março 29, 2006

Vale a Pena Recordar

▪ Sai publicado, neste dia de 1911, o decreto que, revogando o de 1901, reorganiza os serviços de instrução primária. Cria oficialmente o ensino infantil para os dois sexos, escolas infantis em cada um dos bairros de Lisboa e Porto, em todas as capitais de distrito e nas sedes dos principais concelhos, atribuindo-lhes professoras diplomadas pelas escolas normais. Apesar da legislação que foi sendo publicada, o ensino oficial infantil tardou a aparecer, por falta de verbas.
Quanto ao ensino primário, este decreto declarava-o laico e descentralizado. Em termos organizativos, o ensino primário era distribuído por três graus: o elementar, obrigatório com duração de três anos; o complementar, com duração de dois anos; o superior, com duração de três anos. Destes, só funcionou regularmente o ensino elementar.
Este decreto continha, ainda, um conjunto de medidas tendentes à protecção e dignificação do professor primário, como é o caso da concessão de dispensa de serviço (dois meses ao todo), sem perda de vencimento, às professoras durante o último período de gravidez e em seguida ao parto, inspecção sanitária escolar, aumento de vencimento, etc.

quarta-feira, março 15, 2006

Mire On Local

O erro de Sócrates? Ou a árvore de folha que não caduca?

Depois do pleno luar, um dia cinzento ... . E a srª funcionária da respectiva repartição confirmou que, também a seu ver, já é tempo de soluções tecnológivcas para acabar com a hiperburocracia residual, em jeito de instrumento de subsídiodependência para-eleitoralista, que é como quem diz valer bem a pena o esforço dependido, as eventuais chuveiradas que, nas extensas bichas de espera, qualquer um de nós ainda está sujeito a apanhar, porque o Estado é soberano, o povo é sereno e o metro português é bem mais pequeno que a referência museológica de Sèvres, bem no coração da Europa ...
Mais adiante, chegamos também à conclusão que, no ainda e actual modelo que o sistema prefere (?) manter, muitos são aqueles que, porque o dito choque nem é de ideias, nem tão pouco a tecnológico parece aspirar, "nadam" perfeitamente na papelada que não se importam de preencher, tão honestamente quanto as obras e/ ou investimentos realizados lhes permitem orçamentar, numa como que quase comísera contrapartida por aquilo a que temos direito primário de aceder (repartição primária da riqueza, generalíssimamente sob a forma de salários) mas que não temos, a não ser que não declaremos (quando é o caso) algumas das receitas para que nos colectamos ou, até, ceclaremos despesas que não efectuamos. Tudo é humanamente possível, tecnologicamente inadmissível, socialmente subserviente, sistemicamente estruturante, moralmente injusto, políticamente dominante.
E a árvore continua com as suas folhas, que não caem, nem que chova, nem que se desse um curto-circuito tecnológico! Por isso, lá fui eu, neste dia também cinzento como aquele que retrato, cumprir o meu dever de cidadão que também espera, da outra parte, o retorno de um dever que não tem de ser mito, porque é um direito. Já sem bicha que, no entanto, parece ... estar para durar!

Cogitando

Contemplando, ... uma noite com a Lua cheia

Que vai alta e plena de luz, sem perder pitadada do que a face da Terra para si não oculta não esconde, a não ser nos meandros que os acidentes, naturais e/ ou humanos desenham nos quotidianos por que todos vamos navegando, passando sem velas de vento que não se sente, e por isso não se vai como deveria ir, ou vai como não devia ir, como não devia ser, quando e onde não devia estar, e ninguém deveria ser obrigado a tal quando já é alguém que passou onde devia, quando é o que tem de ser, à luz seja de quem for ...!
Acabadinha de tirar
Oh lua que, tão alta vais, será que ninguém te ouve quando te vê, para ti olha e não te sente? Claro, há sempre alguém que te vê, te cheira e contempla, ouvindo a música que passa no teu lento passeio à luz das estrelas, que parecem invejar-te tão clara intimidade, no límpido que é esse lampejo prateante do teu olhar!
Ao jeito dos paparazzi, ainda a noite começava
E por que será que outros se escondem, mas nem por isso deixam de te querer ver? Será de vergonha ou de medo? Ou apenas hesitam em se expôr ao teu luar, para não mostrarem a face que ocultam à tua luz? Oh, Lua, que tão alta vais, tão plena de luz, sem perder pitada do que aqui vai, conta-nos um pouco do que saber ver, que não deve ser pouco, de ti também precisamos para esclarecer o que não vemos, sem a tua luz que também não somos!
Oh Lua, como para nós podes ser tão bela?

sexta-feira, março 10, 2006

Cogitando

E porque a estrada é larga, as vias são várias e a ânima não é pequena, talves seja altura de clarificar estas "águas blogueiras", que é como quem diz "vamos lá a separar a trigo do joio", para se poder perceber melhor o que é do pensamento sobre o que se vai vivendo, em si mesmo

(as "Cogitadelas"), ficando com os Cogitando
o que é da razão crítica e do pensamento sistematizado,
("Fiat Lux"), para onde transitam as Tiradas de Reflexão Pura
o que é da expressão "liberdadeira" e plural da cidadania, a começar pelos mais jovens,
("Novo Arco Íris"), para onde transitam as La Pensée du Jour
e, mais recentemente, esse desejo de criar um espaço de participação na crítica social à luz do pensamento filosófico , tanto quanto possível, caracteristicamente português,
(o "Publicista"). para onde transita O Republicanário
Mas certamente que, porque não se advogam, em princípio, quaisquer exclusivismos, também nestes espaços haverá lugar à interpenetração de ideias e expressões. Só assim se conseguirá, cremos, uma abrangência na integralidade da utilização que fazemos deste meio tão profícuo que é o da blogosfera e, acima de tudo, das vontades efectivas de participação civilizante.
Vamos, para tanto, cogitando um pouco mais profundamente!

quinta-feira, março 09, 2006

Tiradas de Reflexão Pura

Mulher Sempre Ou como a evolução da espécie humana ainda criará o Dia Internacional do Homem (por sinal, no mesmo mês, a 19 de Março?)!

Como sinto algo de sombrio sempre que oiço falar de dias internacionais, sobretudo quando evocam o que nem devia ser evocado, porque não há fundamentos para evocar o que nunca careceu de ser evocado! Mulher é, independentemente de quem ou do que quer que seja que digam, como eu sou, assim como qualquer um de nós é. E para o sermos também não carecemos que nos evoquem! Nem, creio, gostaríamos que nos atribuissem um dia em que todos parecem nos querer evocar, num como que sentimento de pena ou pretensa compensação pós-operatória.
Por isso, prefiro evocar, neste dia de 8 de Março (embora já o esteja a fazer no começo do dia seguinte), Fernando Pessoa, quando, com o Guardador de Rebanhos, cria o seu heterónimo Alberto Caeiro.

O GUARDADOR DE REBANHOS

1

Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas eu fico triste como um pôr de sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo da planície

E se sente a noite entrada

Como uma borboleta pela janella.

Mas a minha tristeza é socego

Porque é natural e justa

E é o que deve estar na alma

Quando já pensa que existe

E as mãos colhem flores sem ella dar por isso.

Como um ruido de chocalhos

Para além da curva da estrada,

Os meus pensamentos são contentes.

Só tenho pena de saber que elles são contentes,

Porque, se o não soubesse,

Em vez de serem contentes e tristes,

Seriam alegres e contentes.

Pensar incommóda como andar á chuva

Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos.

Ser poeta não é uma ambição minha.

E´ a minha maneira de estar sòsinho.

E se desejo ás vezes,

Por imaginar, ser cordeirinho

(Ou ser o rebanho todo

Para andar espalhado por toda a encosta

A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

E´ só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz

E corre um silencio pela herva fóra.

Quando me sento a escrever versos

Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,

Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,

Sinto um cajado nas mãos

E vejo um recorte de mim

No cimo d´um outeiro,

Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéas,

Ou olhando para as minhas idéas e vendo o meu rebanho,

E sorrindo vagamente como quem não comprehende o que se diz

E quer fingir que comprehende.

Saúdo todos os que me lerem,

Tirando-lhes o chapeu largo

Quando me vêem á minha porta

Mal a diligencia levanta no cimo do outeiro.

Saúdo-os e desejo-lhes sol,

E chuva, quando a chuva é precisa,

E que as suas casas tenham

Ao pé dúma janella aberta

Uma cadeira predilecta

Onde se sentem, lendo os meus versos.

E ao lerem os meus versos pensem

Que sou cousa natural -

Por exemplo, a arvore antiga

A´ sombra da qual creanças

Se sentavam com um baque, cansados de brincar,

E limpavam o suor da testa quente

Com a manga do bibe riscado.

8 - 03 – 1914 (Retirado do Google.pt)